Rui Rio: “o PS e António Costa afastaram-se do centro político e estão completamente na mão da esquerda”

19 de novembro de 2020
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O Presidente do PSD confirmou esta quarta-feira, em entrevista à TVI, que o PSD vai votar contra o Orçamento do Estado na especialidade: “o orçamento vem num estado que não está capaz de receber o voto favorável do PSD. É um orçamento do PS, mas já muito encostado ao PCP e ao BE”.

Rui Rio manifestou ainda a sua preocupação com o facto de o atual orçamento vir a acomodar ainda mais reivindicações da esquerda: “com o PCP e o BE a pedir mais e mais, o país não aguenta. O problema é que todas estas medidas ao mesmo tempo, na altura em que o país está, anunciam que no futuro tudo vai ser difícil. O nível de dívida pública e externa é muito perigoso. Temos de ter muito cuidado, porque eu não quero que o país volte a passar por aquilo que passámos recentemente. Parece que o PS não aprendeu nada com José Sócrates”.

Questionado sobre o facto de poder vir a apoiar o PS para evitar uma crise política caso este partido venha a não conseguir aprovar o orçamento, Rui Rio rejeita responsabilidades e deixa bem claro que isso “nem é equação”, até porque foi António Costa quem “traçou uma linha vermelha” e disse que “no dia em que eu precisar do PSD para aprovar o orçamento, o meu governo acaba”.

Rui Rio recordou que “o PS e António Costa se afastaram do centro político e estão completamente na mão da esquerda”, e garantiu que “nunca um governo meu se colocará na mão do Partido Comunista”.

Sobre estar ou não mais perto de chegar a Primeiro Ministro, Rui Rui admitiu que sim mas remeteu para o interesse nacional e para a boa governação: “Porque eu estou na oposição e quero que as pessoas votem em mim quando houver eleições, eu poderia dizer isto é pouco, eu quero mais. Mas isso não é sério. Nem eu quero chegar a Primeiro Ministro de qualquer maneira. Se chegar a Primeiro Ministro tenho de ter as melhores condições possíveis para fazer o que tem de ser feito. Se ao longo deste tempo todo prometer às pessoas aquilo que é impossível, no dia em que eu tomar posse já estou diminuído."

O Presidente social-democrata afirmou ainda que “é nestas alturas, perante estas dificuldades, que se vê quem tem firmeza e frieza para governar”.

A pandemia esteve também em foco nesta entrevista. Rui Rio admitiu que em março e abril optou por “cooperar e não criticar o que o governo estava a fazer de mal”. Lembrou que foi muito criticado por isso, mas deixou claro que “quem fosse sério nessa altura sabia que se estivesse no lugar do Primeiro Ministro dificilmente poderia fazer melhor, porque nenhum de nós entendia um fenónemo que ninguém conhecia.”

Rui Rio alertou que hoje a situação é diferente, mas garantiu que só no limite é que o PSD não daria ao governo as condições para combater a pandemia através da aprovação de um quadro legal, leia-se Estado de Emergência, para o fazer. E deixou algumas questões ao Governo sobre a gestão do Governo.

A colaboração e a ajuda mantém-se intacta. Não criticar aquilo que o governo fez de mal não é bem assim. Impunha-se, em julho e agosto, que o governo, com o conhecimento adquirido desde março, e quando se sabia que a probabilidade de haver uma segunda vaga era elevadíssima, tivesse feito uma gestão diferente. Porque é que o governo não negociou com o setor privado e com o setor social as camas que existem em Portugal? Está a fazer agora, tarde e a más horas. Em 3 meses, entre julho, agosto e setembro, teria sido possível formar enfermeiros e médicos para trabalharem com ventiladores e camas de cuidados intensivos. Porque é que o governo não formou estas pessoas?", questionou. 

Rui Rio criticou ainda o facto de um hospital em Miranda do Corvo, que está pronto há um ano, continuar parado porque o Ministério da Saúde não assina o acordo para esta infraestrutura entrar em funções, servindo a região de Coimbra nesta fase complicada.

Sobre a taxa de mortalidade estar a subir, o líder do PSD criticou o adiamento de mais de 1 milhão de consultas e de mais de 100 mil cirurgias, o que faz com que também as pessoas que não têm Covid-19 estejam a morrer por falta de assistência.

Sobre o acordo com o partido Chega para apoiar a coligação PSD-CDS-PPM que vai governar os Açores após as eleições regionais de outubro, Rui Rio deixou bem claro que “não há qualquer acordo nacional entre o PSD e o Chega, nem com a Iniciativa Liberal, o PPM e o CDS”, e falou abertamente das quatro reivindicações do Chega, afirmando que as mesmas não ferem de maneira nenhuma a matriz programática do PSD: redução da subsidiodependência nos Açores, combate à corrupção, proposta de redução do número de deputados regionais e reforço da autonomia.

O presidente social-democrata esclareceu ainda que nunca se reuniu com dirigentes do Chega e que foi “o Representante da República que exigiu preto no branco esse suporte parlamentar (apoio que garanta uma maioria parlamentar)”, algo que o líder do PS não conseguiu fazer e que o PSD Açores sim.

O líder do PSD admitiu que no seu entender a melhor regra é que governe quem ganha as eleições, mas lembrou que “António Costa e o Partido Socialista começaram um processo diferente”. E reconheceu que “é uma questão de pragmatismo. Se os partidos de esquerda ou de direita nos pedirem algo que não fira o nosso programa, porque devemos dizer que não?

O Congresso que o PCP está a preparar para organizar em pleno estado de pandemia mereceu duras críticas de Rui Rio, dirigidas também ao governo do PS: “Não consigo conceber colocar as pessoas em casa em recolher obrigatório de semana e ao fim-de-semana, sabendo nós que os restaurantes e os hotéis estão na situação em que estão. O governo diz que isto é para todos menos para o PCP. Isto pode levar a uma situação perigosa, na qual as pessoas perdem o respeito ao governo. Espero que haja bom senso e que não haja congresso partidário ou outro qualquer evento que junte muita gente.”

Para o fim da entrevista ficaram as eleições presidenciais de janeiro de 2021 e para as quais o PSD já manifestou apoio a Marcelo Rebelo de Sousa. Rui Rio admitiu que o anúncio da recandidatura do atual Presidente da República deve estar para breve e não enjeitou críticas ao posicionamento político do PS: “Há um ponto que já está encerrado nestas eleições. Há um derrotado, que é o Partido Socialista. Não se revê em candidato nenhum e não está capaz de promover candidatura alguma em que se possa rever e indicar o sentido de voto.”