Rui Rio: “escravidão” em Odemira “envergonha Portugal”

6 de maio de 2021
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Rui Rio diz que que Portugal “tem todas as razões para se envergonhar” da “quase escravidão” que envolve trabalhadores imigrantes no sudoeste alentejano e pede responsabilidades ao Ministério da Administração Interna pela sua atuação em todo este caso. 

“Acho que Portugal todas as razões para se envergonhar de semelhante situação. Não temos ali escravidão como era há 200 anos atrás, mas temos quase escravidão e a minha pergunta é: o que é que fez o Ministério da Administração Interna através, por exemplo, da GNR que está lá no terreno e que vê aquilo? Não fez nada”, afirma Rui Rio, na “Grande Entrevista”, transmitida esta quarta-feira, na RTP3.

O Presidente do PSD manifestou ainda estranheza pelas notícias que referem que a Polícia Judiciária está a investigar “há mais de dois anos” denúncias de imigração ilegal e tráfico de pessoas. “Eu pergunto: a investigar o quê? A pessoa vai a Odemira e ao fim de pouco tempo olha e vê as pessoas ali, tem as denúncias. Ficam mal os empresários que fazem uma coisa dessas, mas fica particularmente mal o poder público, seja através do Ministério da Administração Interna, seja através do Ministério do Trabalho ou do Ministério da Justiça”, refere.

“Agora vão todos para lá a correr, aquilo é uma vergonha”, acrescenta.

Rui Rio critica ainda a omissão da Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT), assim como do município de Odemira. “Agora vão todos para lá correr”, lamenta. 

Rui Rio considera que é necessário “instaurar processos-crimes, fazer julgamentos e dar condições aos trabalhadores” para acabar com este caso “inaceitável” de Terceiro Mundo. 

 
Novo Banco: PSD vai entregar exposição na PGR
Rui Rio anunciou que o PSD vai entregar “uma exposição” sobre o Novo Banco na Procuradoria-Geral da República e defendeu que a instituição deveria ter ficado na esfera do Estado antes de ser vendida.

“Os contribuintes portugueses vão meter 8,8 mil milhões de euros no Novo Banco e agora a Lone Star vai pegar nele limpinho e vai vendê-lo e ganhar dinheiro com isso. Então se metemos este dinheiro todo lá, porque é que as ações não são do Estado, porque é que o Novo Banco não ficou no Estado? E agora sim, com ele limpo, era vendido e o lucro da venda era para os contribuintes”, defendeu.

O líder do PSD divulgou que “nos próximos dias” o partido vai entregar uma exposição sobre esta instituição bancária na Procuradoria-Geral da República (PGR). “Não é uma queixa-crime, é uma exposição, não vamos pôr lá muita coisa que não esteja no domínio público, mas não percebo como é que a PGR não está a investigar uma coisa destas”, disse.

Rui Rio admitiu, contudo, que irá fazer essa exposição “com o mesmo sentimento que, infelizmente, têm dez milhões de portugueses”.

Questionado sobre as conclusões da auditoria do Tribunal de Contas (TdC), conhecida na segunda-feira, Rui Rio considerou que ainda não fez “tudo o que o Parlamento pediu”, nomeadamente avaliar “os negócios do Novo Banco um a um para saber se os preços foram corretos ou incorretos”.

“Mas diz que o Estado pagou ao Novo Banco sem verificar a fatura”, afirmou, considerando que tal deu razão à posição do PSD.

 
Governo não quer “fazer rigorosamente nada” na Justiça
Nesta entrevista, Rui Rio criticou os políticos que “vêm a correr” apresentar iniciativas e propor agravamentos de penas “de cada vez que há um problema”. “Isso só os descredibiliza, fazem-no por razões de popularidade”, apontou.

Apesar de considerar que a proposta da Associação Sindical dos Juízes Portugueses de criação de um crime de ocultação de riqueza “não é má” e até poderá votar “a favor”, Rui Rio considerou que não resolverá a maioria dos casos. “Temos de ser honestos com as pessoas, o assunto é difícil e contra a corrupção somos todos ou quase todos”, afirmou.

Rui Rio refuta as críticas do Primeiro-Ministro de que, com as suas propostas, ataca a independência do poder judicial, acusando António Costa de ter interferido na escolha do procurador europeu, quer recorrendo a escutas do tempo da Casa Pia. “Quem é criticado pelo Parlamento Europeu, por uma larguíssima maioria, é o próprio Primeiro-Ministro, por ter interferido indevidamente na escolha do procurador europeu, que, inclusive, deu dados errados no currículo, para conseguir lá pôr o procurador que quer e não aquele que, por mérito, lá deveria estar. Enviaram-me um mail com escutas telefónicas do tempo da Casa Pia onde está o dr. António Costa a tentar interferir com a justiça, está no Youtube”, disse.

Rui Rio entende que “não é politicamente honesto” dizer que quer “interferir na independência do poder judicial quando ele [Primeiro-Ministro] até tem esse historial”, acrescentando não compreender como é que “alguém com a responsabilidade do Primeiro-Ministro e que até foi ministro da Justiça” pode olhar para o estado do setor e “continuar a não querer fazer rigorosamente nada”.